23 janeiro 2006

O alvo da vez da ganância "neo-liberal"

Com muito espanto vi a manchete no Jornal Nacional : Governo criará 11 novas universidades federais. Fazia tempo que o governo federal não dava uma notícia tão boa, natural o meu espanto. Pode-se discutir, claro, se ao invés de abrir novas universidades não seria mais adequado abrir vagas nas já existentes. Mas isso é outro assunto, trata-se de discutir se uma notícia boa poderia ser ótima, ou não.

O que me espantou de fato foi o comentário de alguém, não tive tempo de ver quem, dizer que o modelo das universidades federais é ruim e que ampliá-las é só ampliar o problema! Ruim comparado com o que, cara pálida?! Com as lojinhas de diplomas sem-vergonhas que tem a ousadia de se chamarem "universidades" privadas? Paulo Renato de Souza, ministro (do desmonte) da educação do desgoverno FHC também acha isso, não é à tôa que, quando Lula assumiu, fazia já 10 anos que não havia nenhum aumento de verba para as universidades federais. Há algum tempo vi que o ex-ministro junto com o Mallan estava participando de um cliclo de palestras, acompanhados dos donos de algumas "universidades" particulares. Em perfeita sintonia, com certeza.

O último capítulo desta estória foi a manchete mentirosa/criminosa/revoltante da Folha de São Paulo, de domingo: "Universidade Privada domina o ranking". Só se for da sonegação de impostos, já que é visível o enriquecimento dos donos destas "instituições sem fins lucrativos".

Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, resume bem o caso:

A manchete de ontem, domingo, da Folha de S.Paulo é extremamente reveladora sobre os critérios que norteiam a preparação das primeiras páginas de nossos jornais. Disse a Folha num título de oito colunas: “Universidade Privada domina o ranking”. No antetítulo somos surpreendidos com a informação de que a USP, a maior universidade pública, desceu de 3º para 5º lugar. Meus Deus, o que aconteceu? Então lemos os cinco parágrafos do texto explicativo na primeira página e percebe-se que estamos diante de uma gigantesca não-notícia. O tal ranking é uma ficção, refere-se ao número de alunos. É óbvio que as universidades privadas que abusam do marketing, têm padrões de exigência muito brandos, qualidade mínima e quase não reprovam os matriculados, terão sempre um número maior de alunos. O leitor não é avisado na primeira página do jornal que este não é um ranking qualitativo, o único que importa para a qualificação profissional dos futuros cidadãos brasileiros. A manchete preocupante está na capa do terceiro caderno: “Universidades Privadas aumentam domínio”. E a manchete verdadeira, esta saiu escondida na página interna: “Desempenho das quatro maiores universidades privadas é muito inferior à USP”. É bom lembrar que as universidades privadas são grandes anunciantes de jornais e revistas.

É bom lembrar também, Alberto Dines, que os jornalões de São Paulo são os porta-vozes do neoliberalismo e, por extensão, de seus maiores defensores no Brasil: os tucanos. Já deu para perceber o que nos espera caso um rato vestido de tucano retorne ao poder, especialmente certo senhor fundamentalista cuja filha "trabalha" na Daslu, comprometidíssimo com o que há de pior na elite brasileira.
ATUALIZAÇÃO (25/01/2006):
Em resposta ao que Fortes Scheissmann comentou neste mesmo post:
O problema, Fortes, é que dessa vez não é nem só para vender jornal. É para vender uma idéia errada, e um pedaço do país de brinde.
O roteiro, em 10 passos básicos, sendo seguido pela caterva neo-liberal é:
  1. Governe o país
  2. Faça de tudo para sucatear a universidade pública, enquanto favorece as "universidades" privadas de fundo de quintal que enfiaram uma grana na tua campanha.
  3. Crie um sistema de avaliação que ignore critérios subjetivos de qualidade, assim fica facilitado dizer que as "universidades" particulares são melhores do que realmente são.
  4. Em perdendo as eleições para alguém que, apesar do ProUni que dá uma graninha para as privadas, limita a criação de novos cursos de fundo de quintal e resolve criar 11 novas universidades federais (e portanto, concorrendo com as lojinhas de diplomas de seus amigos), comece a atacar a universidade pública.
  5. Em seu ataque, diga que a universidade pública não presta, que não tem boa estrutura, que está sucateada. Não diga, claro, que o sucateamento e o problema de estrutura é culpa sua e de seus antecessores, amigos dos amigos seus também.
  6. Venda a idéia, com a ajuda de seus amigos donos de jornais, de que a universidade privada é muito melhor que a pública (afinal você não entende como é possível que não seja assim depois de todo o seu esforço por tornar isso verdade).
  7. Ajudado pelos seus amigos que são donos de jornais e revistas, volte ao poder, para concluir o que começou.
  8. Diga que as universidades públicas são uma merda sucateada e sem valor e use isso como argumentação para vendê-las aos seus amigos (muitos dos quais donos de privadas) à preço de banana e financiado pelo BNDES em condições facilitadíssimas, ou seja, o mesmo esquema que você já usou para vender as siderúrgicas, o sistema telefônico, os bancos, etc...
  9. Como isso é capitalismo e no capitalismo as coisas são pagas, ajeite uma maneira de seus amigos te darem uma grana para pagar todos esses favores, seja pondo dinheiro na sua próxima campanha, seja colocando grana na sua ONG chamada, hipoteticamente, Instituto Fernando Henrique Cardoso, para não dar bandeira.
  10. Torça fervorosamente para que não exista justiça, nem Deus, nem inferno, porque senão você tá fodido. Se for assim, pode dormir sossegado que os poderosos te protegem. Afinal eles só se incomodam com "comunas" e o única coisa que temem é o povo, que você ajuda a manter sob controle.

20 janeiro 2006

Corrupção Tucana

A oposição, e por algum motivo o próprio governo, estão trabalhando contra a formação da CPI das Privatizações, que poderia investigar toda a sujeira das doações do governo FHC. Enquanto isto outra CPI descobre mais falcatruas do PSDB.

A CPI dos Correios identificou depósitos feitos pela Telesp e outras empresas públicas para a conta da SMP&B de Marcos Valério nos anos de 1997 e 1998, ou seja, durante administração tucana. Os depósitos totalizam R$104 milhões.

Me pergunto por que além do Jornal do Brasil nenhum outro jornal trouxe alguma coisa a respeito. Mesmo o JB não deu o devido destaque a esta notícia. Não é uma quantia banal, são cento e quatro MILHÕES de reais. Por muito menos toda a imprensa traz como manchete principal qualquer irregularidade de administrações petistas, mesmo que seja simples especulação. Por que não dar o mesmo destaque com os outros partidos?

Segue a notícia na integra:

CPI lança suspeita sobre tucanos

Entidades públicas administradas pelo PSDB teriam depositado R$ 104 milhões na conta de empresa de Marcos Valério

BRASÍLIA - A CPI dos Correios demonstrou ontem que tem munição contra o PSDB. Uma nota técnica à disposição da comissão revela que uma conta no Banco Industrial e Comercial S/A (Bicbanco), da agência SMP&B São Paulo, de propriedade de Marcos Valério Fernandes de Souza, recebeu em 1997 e 1998 cerca de R$ 104 milhões, em valores atualizados em novembro de 2005, de duas entidades públicas sob responsabilidade de governantes tucanos. Como no caso das operações efetuadas no governo atual, a CPI suspeita de desvio de recursos públicos para alimentar partidos políticos.

Além disso, vislumbra a possibilidade de comprovar que Marcos Valério opera esquemas de drenagem do erário pelo menos desde meados da década passada. Obtidapelo Jornal do Brasil, a nota técnica aponta depósitos e ordens de crédito a favor da SMP&B São Paulo efetuados pela Telesp, então empresa de telecomunicações do Estado de São Paulo, e pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Em ambos os casos, o enredo não é original e envolve, por exemplo, pagamentos superfaturados por serviços não comprovados e saques em dinheiro vivo. A atenção da CPI dos Correios está voltada, sobretudo, para o relacionamento entre a Telesp e a agência de Marcos Valério. Entre abril de 1997 e setembro de 1998, a empresa despejou na conta da SMP&B São Paulo cerca de R$ 41 milhões, em valores da época, ou R$ 73,3 milhões, em números atualizados em novembro de 2005 com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

A maioria dos depósitos ocorreu antes das eleições gerais de 1998 e da privatização da Telesp, realizada em julho daquele ano. A nota técnica menciona indícios de que os depósitos ''podem ter apresentado irregularidades na sua utilização capazes de caracterizar desvio de recursos públicos''. Entre os indícios, destaca-se o fato de o contrato entre a Telesp e a SMP&B São Paulo prever o pagamento de, no máximo, R$ 4 milhões. Ou seja, dez vezes menos do que o total depositado na conta da agência de Marcos Valério.

Diante da disparidade dos números, o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), enviou ofício à Telesp questionando se foram fechados outros contratos de prestação de serviço no período sob investigação e a relação discriminada dos pagamentos deles resultantes. Em resposta à CPI, a empresa declarou a existência apenas do contrato de R$ 4 milhões, assinado pelo então diretor Carlos Eduardo Sampaio Doria. Eleito deputado federal pelo PSDB em 1998, Sampaio Doria também foi presidente da Telesp.

Hoje, ocupa o cargo de diretor de controle econômico e financeiro da Agência de Transportes do Estado de São Paulo e tem assento no conselho consultivo da Fundação Mário Covas, governador de São Paulo entre 1995 e 2001, quando faleceu. Na resposta à CPI dos Correios, a Telesp reconheceu ainda que ''para alguns dos pagamentos realizados não estão disponíveis as informações sobre subcontratada, tipo de serviço e valor dos honorários, em razão do modo de arquivamento anterior ao período de privatização e além do prazo legal de sua manutenção''.

- Isso é gravíssimo, é um crime - disse o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), sobre os desembolsos realizados sem previsão contratual comprovada e sem a respectiva prestação de serviço.

Também causa espécie aos técnicos da comissão o fato de a SMP&B ter repassado recursos para seis empresas que teriam sido abertas apenas para receber dinheiro oriundo do caixa da Telesp. As notas emitidas pelas empresas eram seqüenciais, ou seja, sinalizam que a então estatal era a única cliente delas. Todas as empresas são controladas pelos irmãos Ricardo.

Secretário-Geral do PSDB e relator adjunto da CPI, o deputado Eduardo Paes disse não ontem que não vê ''nenhum problema'' em relação à nota técnica.

- Se houver indícios que justifiquem a investigação, ela deve ser feita. Seria preciso saber quem são os sacadores do dinheiro e com quem eles se relacionavam - ponderou.

18 janeiro 2006

Opus Dei


Raramente elogio algo publicado em uma revista da mídia gorda, mas a matéria da revista Época desta semana, "A vida íntima do Opus Dei", presta um serviço ao país.

Quem acompanha o Observatório da Imprensa já leu Dines criticar o poder crescente desta bizarra organização fundamentalista nos meios de comunicação. O presidente da Associação Nacional de Jornais é numerário do Opus Dei e escreve quinzenalmente no Estado de São Paulo. Sobre religião? Não. Sobre mídia e comunicação? Também não. O tema quase sempre é política, quase sempre atacando o governo e defendendo posições ultraconservadoras. E quem é o candidato da Opus Dei à presidente? Geraldo Alckmin!

Vou iniciar a campanha para presidente em 2006 "Qualquer um, menos o Alckmin!".

O mais recente dos muitos textos de Alberto Dines sobre a Opus Dei: aqui.

Artigo escrito por Sebastião Nery para o Tribuna da Imprensa (18/01/2006) :

Os cilícios de Alckmin

Longos escapulários grenás sobre os ombros, cabelos aparadinhos de recrutas milionários, brandindo seus estandartes medievais de Ricardo Coração de Leão, lá vinham desfilando pela Avenida Rio Branco, no Rio, os meigos donzelos da TFP (Tradição, Família e Propriedade), que o humor carioca apelidou de "capão-vermelho" (nem frango, nem franga).

Era o exército pessoal do estranho solteirão Plínio Correa de Oliveira, constituinte de 1934 por São Paulo, eleito pela Liga Eleitoral Católica, jornalista, ridículo e retardatário cruzado da Idade Média em pleno século XX.

Na ditadura, Magalhães Pinto saía de seu escritório no Banco Nacional, esquina de Rio Branco com Ouvidor, viu os marchadores da TFP poluindo a avenida e atrapalhando o trânsito, e disse a um jornalista:

- Esses rapazes são uns privilegiados. São os únicos brasileiros que podem gritar na rua.

"Opus Dei"

A TFP implodiu em escândalos em 84, Plínio Correia morreu em 95. Mas há uma outra instituição com o mesmo DNA, mais discreta e muito mais perigosa, porque meio secreta, quase maçônica, a "Opus Dei" (Obra de Deus), encravada dentro da Igreja e oficializada como "prelazia pessoal do papa".

Fundada em 1928 na Espanha pelo padre José Maria Escrivã de Balaguer (deixou um livro-Bíblia, "O caminho", com "999 ensinamentos"), morto em 1975 e canonizado já em 2002 pelo papa João Paulo II, a obra, ultraconservadora, tem 85 mil membros no mundo (2 mil padres, 83 mil leigos, 55% mulheres), milhões de "cooperadores" e US$ 2,8 bilhões.

A "espinha dorsal" da "Opus Dei" (embora "Opus" seja palavra neutra, eles gostam de chamar-se "o Opus") são os "numerários: leigos e leigas celibatários que vivem nos centros da instituição, cumprindo um ritual diário de rezas e mortificações (cilícios amarrados ao corpo, ferindo-se duas horas por dia, e flagelos para chicotear as nádegas nuas uma vez por semana), e os supernumerários, que podem casar-se, ter filhos e patrimonio próprio".

Polanco

Desde a Espanha, onde nasceu na ditadura de Franco e a Itália, onde se fortaleceu na ditadura de Mussolini, a "Opus Dei" tem uma estratégia central: ocupar a imprensa e o ensino (colégios e universidade) para ocupar o poder. Ela investe pesado na imprensa e em jovens quadros jornalísticos e políticos.

Esse insaciável Jesus Gutierrez Polanco, dono do "El Pais", o maior jornal da Europa, rei e monopolizador do livro didático em todos os países de língua espanhola e portuguesa, que já invadiu o Brasil com suas editoras Santillana e Planeta (aqui, já comprou também a Editora Moderna, a Salamandra e outras), é um filho dileto e poderoso general da "Opus Dei".

Na "Época" desta semana, em minuciosa e excelente matéria, Eliane Brum e Débora Rubin dissecam a "Opus Dei" e mostram seus tentáculos na imprensa e na política brasileira: "Por dentro do Opus Dei - Os segredos da organização mais poderosa e influente dentro da Igreja Católica".

Di Franco

E é aí que surge o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com seu ar de angélico e piedoso sacristão, como imenso capital de giro da "Opus Dei":

1 - "Carlos Alberto Di Franco (que pontifica sempre na "Folha"), 60 anos, é um dos numerários mais influentes e bem relacionados do Opus Dei. Representante no Brasil da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra, do Opus Dei, e diretor do Master em Jornalismo, um programa de capacitação de editores que já formou mais de 200 cargos de chefia dos principais jornais do País, é citado no livro "Opus Dei - Os bastidores", como o executor da política da obra para a mídia no Brasil e na América Latina".

2 - "Nos últimos anos, tem feito periodicamente uma preleção sobre valores cristãos na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, a convite do governador Geraldo Alckmin. O encontro, apelidado de Palestra do Morumbi, reúne um seleto grupo de empresários e profissionais do Direito, entre eles o vice-presidente da Fiesp, João Guilherme Ometo".

Morumbi

Em entrevista à "Época", Di Franco revela coisas curiosas (e perigosas):

1 - "As palestras do Morumbi, que acontecem na última quarta-feira do mês, no palácio, com o governador e um grupo de empresários e professores, nasceram de uma conversa do governador com um sacerdote da obra, o padre Teixeira, com quem ele tem direção espiritual periódica. Sou o palestrante".

2 - "A proibição de ir ao cinema, teatro ou estádio de futebol não é conflitante com meu trabalho de jornalista. Pare mim nunca foi problema. Não é que não pode. A expressão está mal colocada. Não vai ao cinema porque não quer ir ao cinema. Os numerários vivem voluntariamente uma série de abstenções em função de sua entrega como numerário".

3 - "O cilício é uma mortificação corporal ultratradicional na Igreja. Uso duas horas por dia, como qualquer numerário. Se quer saber, sou virgem".

Alckmin já era o candidato da Febraban, Fiesp, TFP. Agora, "Opus Dei". Só faltam os Templários. Vota nele quem quer. Mas sabendo que já tem dono.


17 janeiro 2006

A agenda Tucana

Os entreguistas afiando as unhas e exibido as presas. Publicado originalmente na Agência Carta Maior:

Agenda tucana para o Brasil prevê retomada da ALCA e privatizações

Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior 16/01/2006

Porto Alegre - Reforma trabalhista radical, com corte de encargos e direitos; privatização de todos os bancos estaduais; fusão dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário; adoção da política do déficit nominal zero; redução de despesas constitucionalmente obrigatórias em áreas como saúde e educação; menor peso ao Mercosul e retomada das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca): essas são algumas das idéias defendidas por um grupo de especialistas que vem se reunindo com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com o objetivo de desenhar o esboço de um eventual programa de governo.

Em matéria publicada em 9 de janeiro, o jornal Valor Econômico anunciou: “Alckmin toma aulas para campanha”. Segundo a matéria, o ex-presidente do BNDES e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros já se destaca como provável homem forte da “República dos Bandeirantes”.
Já participaram de reuniões da “República dos Bandeirantes”, entre outros: Luiz Carlos Mendonça de Barros (ex-ministro das Comunicações de FHC), Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central), Paulo Renato de Souza (ex-ministro da Educação de FHC), Roberto Giannetti da Fonseca (empresário, ex-secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior), Sérgio Amaral (ex-ministro do Desenvolvimento e ex-porta-voz da Presidência da República durante o governo FHC), Xico Graziano (ex-presidente do Incra e ex-secretário da Agricultura de São Paulo), Arnaldo Madeira (ex-líder de FHC na Câmara e atual secretário da Casa Civil de SP), Raul Velloso (especialista em contas públicas) e José Pastore (sociólogo, especialista em relações do trabalho). As “aulas” deste grupo a Alckmin têm um objetivo claro: “o governador está em processo de entendimento dos problemas nacionais”, disse Mendonça de Barros ao Valor.
Déficit nominal zero
Repercutindo o mesmo tema, a Folha de São Paulo publicou em 10 de janeiro: “Alckmin já prepara plano econômico”. A matéria também fala das reuniões da “República dos Bandeirantes”, destacando conversas de Alckmin com Armínio Fraga e o economista Yoshiaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo a Folha, “Alckmin pretende utilizar na campanha as lições que tem recebido”. “Ele tem defendido, por exemplo, a idéia de déficit nominal zero, uma proposta antiga de Yoshiaki Nakano, um dos seus interlocutores mais freqüentes”, acrescenta. Segundo essa proposta, o governo teria que ter receitas para pagar todas as suas despesas, incluindo aí os gastos com juros da dívida pública. Como não há espaço para aumento da carga tributária, a proposta prevê o corte de despesas pelo governo e o aumento do limite de desvinculação de receitas da União.
Além de procurar “entender os problemas nacionais”, Alckmin também teria como objetivo, através das reuniões, demarcar aquela que seria uma de suas principais diferenças em relação ao prefeito de São Paulo, José Serra, outro líder tucano que postula a candidatura à presidência da República. Serra seria centralizador e Alckmin um gestor moderno que governaria com especialistas.
As idéias dos especialistas ouvidos por Alckmin dão uma idéia da agenda tucana para o país que está em construção. Roberto Giannetti da Fonseca, por exemplo, segundo a reportagem do Valor Econômico, é “pouco simpático ao Mercosul no formato atual, cobra evolução mais rápida dos acordos comerciais com a Alca e as negociações com a União Européia”. Já o sociólogo José Pastore “propõe uma reforma trabalhista radical, com corte de encargos e direitos”. Além disso, é um crítico da obrigatoriedade do abono de férias e o pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) no formato atual. O deputado Xico Graziano, por sua vez, defende a fusão dos Ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário e a criação de uma agência reguladora voltada exclusivamente para o agronegócio. E Raul Velloso propõe a redução de despesas constitucionalmente obrigatórias em áreas como saúde e educação.
"Choque de gestão" e privatizações
Apontado como “homem forte” do grupo, Luiz Carlos Mendonça de Barros defende uma redução mais rápida da taxa de juros para conter a valorização do real. Considerado um dos principais representantes da ala desenvolvimentista do governo FHC – que acabou derrotada pela ala do ex-ministro Pedro Malan – Mendonça de Barros não propõe mudanças profundas em relação ao modelo atual. Se, por um lado, é crítico da política de juros praticada hoje pelo Banco Central, por outro, ficou ao lado do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na recente polêmica com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, crítica da tese do déficit nominal zero e defensora do aumento de investimentos nas áreas social e de infra-estrutura. Caso Alckmin seja o candidato tucano, um dos carros-chefe de seu programa deve ser o discurso do “choque de gestão” a ser aplicado no Estado brasileiro, proposta que representa uma variação das teses do estado mínimo.
Outra proposta da agenda tucana para o país que caminha nesta direção diz respeito às privatizações. Em entrevista concedida ao jornal O Globo (edição de 15 de janeiro), ao ser indagado se pretendia retomar a política de privatizações implementada pelo governo FHC, Alckmin respondeu positivamente e citou os bancos estaduais entre suas prioridades. “A maioria já foi privatizada, mas deveriam ser todos. Tem muita coisa que se pode avançar. Susep, sistema de seguros, tem muita coisa que se pode privatizar”, respondeu. Perguntado se os Correios estariam nesta lista de empresas privatizáveis, o governador paulista foi mais cauteloso, mas não descartou a possibilidade. “Correios acho que teria que amadurecer um pouco. Tem muita coisa que não precisa privatizar”, afirmou sem especificar quais. E, além das privatizações, acrescentou que pretende valorizar as parcerias público-privadas em um eventual governo tucano.
Política Externa: prioridade para a Alca
Mas uma das principais diferenças em relação ao governo Lula aparece mesmo é no plano da política externa, onde os tucanos criticam a proximidade com o governo de Hugo Chávez, da Venezuela, e defendem a retomada das negociações da Alca com os EUA. Após a palestra realizada pelo presidente George W. Bush, durante sua visita a Brasília, no início de novembro, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) elogiou a fala do líder norte-americano, destacando a questão da Alca.

Na avaliação do senador tucano, essa aliança comercial é de interesse do Brasil e “deve ser buscada e perseguida e não suportada ou adiada”. Para Virgílio, a Alca surgirá com ou sem o Brasil. “Sem o Brasil, fará a alegria do México”, comentou, defendendo que a prioridade da política externa brasileira deveria fazer um pacto político com os EUA em troca de vantagens comerciais claras, incluindo aí a queda de barreiras alfandegárias.
Em relação ao governo Chávez, a posição tucana ficou muito clara nas palavras de Virgílio. Para ele, Chávez só se sustenta na Venezuela “graças às milícias que procuram intimidar as oposições e ao alto preço do petróleo”. A simpatia do PSDB em relação à Alca manifesta-se também através de outras iniciativas. Em 2003, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, encaminhou correspondência ao presidente Lula apresentando a candidatura de Belo Horizonte para abrigar a sede permanente da secretaria geral da Alca.

Na carta, Aécio defendeu, entre outras coisas, que o Brasil deveria incluir, na sua pauta de negociação sobre a criação da área de livre comércio hemisférica a proposta de trazer para cá a sede da organização. “A questão da cidade-sede da área de livre comércio torna-se particularmente estratégica. São evidentes os ganhos oriundos de abrigar a Alca não apenas para Minas Gerais, mas para todo o Brasil”, escreveu o governador mineiro. Essas são algumas das idéias e prioridades que estão sendo alimentadas no ninho tucano para disputar o voto dos brasileiros este ano.

12 janeiro 2006

Quem massacra quem?

Há uma discussão acontecendo no Observatório da Imprensa sobre os comentário de Lula sobre a imprensa. Deste debate todo surge um texto bastante preciso de Caia Fittipaldi, que merece ser lido aqui.

03 janeiro 2006

Alfabetização Solidária

Não vou discutir o trabalho da ONG Alfabetização Solidária, ligado à Comunidade Solidária de D. Ruth Cardoso, não o conheço...
...mas aquele comercial da empregada doméstica, pelo amor de Deus, que coisa bizarra. Poderiam ter feito milhões de comerciais diferentes: alguém que foi alfabetizado feliz por poder pegar um ônibus sozinho, lendo coisas pela rua, etc. O comercial que fizeram da empregada contente por que a patrôa vai gostar da comida que ela vai fazer, porque agora ela consegue ler as receitas é a coisa de mais mau gosto, classista e bizarra que poderiam ter feito. Completando com a aparição de Regina Duarte ao fim do comercial - seria ela a patrôa? - fica tudo extremamente burguês. Projeto social de tucano, fazer o quê? Deus me livre...

Atualizado em 24/07/2007:
Mais sobre esta ONG, inclusive link para o vídeo da propaganda, aqui.