10 julho 2006

Por que reeleger Lula?


Via Vermelho:
Datafolha mostra desconcentração de renda no governo Lula
Por Bernardo Joffily

O jornal Folha de S. Paulo deste domingo (9) revela números do instituto Datafolha que mostram uma visível desconcentração de renda no Brasil entre 2002 e 2006. A matéria tem m um título ardiloso, “Lula promove 6 milhões de eleitores para a classe C”, e a pesquisa usa os duvidosos critérios quantitativos da sociologia americana. Mesmo assim – veja o gráfico – mostra que a camada mais pobre dos brasileiros diminuiu de 46% para 38%, enquanto a média aumentou de 32% para 40%.

Os dados fazem parte da mesma pesquisa (com dados coletados em 28 e 29 de junho) que mostra Lula com 46% das intenções de voto, reelegendo-se no primeiro turno (todos os demais candidatos somam 39%), com votos que se concentral no eleitorado mais pobre.


Dados sociais e eleitorais coincidem


Não é por acaso que os dados sociais e eleitorais coincidem: basicamente, uns explicam os outros. “A melhora no consumo e nas expectativas dos eleitores mais pobres explica em grande medida o favoritismo do petista, que hoje venceria no primeiro turno”, admite a matéria da Folha.


Segundo o Datafolha, 37% dos pesquisados passaram a consumir mais alimentos; 31% reformaram a sua casa; e 49% acham que sua situação econômica vai melhorar. Em 2002 eram 38%.


Desde 1994, nunca foi tão baixo o percentual reclama do seu poder aquisitivo, diz o Dastafolha: “Hoje, 28% acham ‘muito pouco’ o que a família ganha. Eles somavam 45% antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.”


O estudo classifica os cidadãos conforme o critério quantitativo, que se baseia nas feixas de renda e consumo, em “classe A/B”, “classe C” e “classe D”. A última, que forma a base da pirâmide, em 2006 deixou de ser a mais larga, possivelmente pela primeira vez.


A ginástica editorial da Folha


O editor da matéria viu-se obrigado a fazer alguma ginástica para não deixar que a pesquisa sirva como uma quase propaganda eleitoral de Lula. Para isso, teve de recorrer a fontes e enfoques sem relação com a pesquisa do instituto – que, no entanto, pertence ao mesmo grupo empresarial do jornal.


Entre as contorções, recorre-se até aos estrudos de Márcio Pochmann (economista da Unicamp e ex-secretário municipal do Trabalho em São Paulo na gestão Marta Suplicy), sobre o aumento da renda financeira dos ricos. Pochmann tem sido um crítico consequente e implacável do modelo neoliberal, ontem e hoje. Mas, curiosamente, a reportagem da Folha não pediu que ele comentasse os dados do Datafolha.

Com visível má-vontade, no pé da segunda página dedicada ao assunto, o jornal admite que “um cenário econômico positivo” está entre as causas da melhora na renda do eleitor. Cita o aumento dos benefícios da Previdência e programas sociais como o Bolsa-Família, mas por fim reconhece: “Os reajustes do salário mínimo acima da inflação (32,2% desde 2003), mais empregos (3,9 milhões formais), mais oferta de crédito e a queda da inflação (de 9,3% em 2003 para 4,5% projetados este ano) também têm forte peso”. Recorre porém a “analistas ouvidos pela Folha” para prognosticar que os benefícios não continuarão em 2007.

ATUALIZAÇÃO:
Deu também nO Globo de domingo, 9 de julho, caderno de economia. Trechos (grifo meu):
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Mais de dois milhões de fa­mílias brasileiras conse­guiram ascender na pirâ­mide do consumo este ano e chegaram à classe média, o que representa cerca de sete milhões de pessoas. O segmento voltou a cres­cer, depois de amargar anos seguidos de empobrecimento com a estagnação ou o fraco crescimento econômico do país a partir da década de 80.
Emprego com carteira assinada em expansão recorde - foram cria­das 1.251.557 vagas formais no último ano - crédito farto e renda do trabalhador reagindo (em maio a alta ficou em 7,7%, a maior desde 2002) são as explicações para a faixa intermediária na escala do consumo ressurgir nas estatísticas. Indicadores do mercado de tra­balho e pesquisas de consumo ates­tam esse avanço. O Instituto de Pesquisa Target, que anualmente acompanha o potencial de consumo de cada classe com base nas pes­quisas do IBGE e da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa de Mercado (Abep), constatou ainda que a parcela das famílias que ganham entre R$ 1.140 e R$ 3.750 já corresponde a 66,7% do total este ano, fatia bem superior à registrada em 2001, que fora de 60,7%.

Com mais dois milhões de casas na classe média, o que representa um acréscimo de 7,9% de 2005 para 2006, o consumo dessa parcela da população subirá em R$ 31,19 bilhões este ano, nas projeções da Target. Um avanço de 4,5%.
- Há um claro movimento de ascensão de classe O (renda familiar de R$ 570) subiram na pirâmide. Compraram mais bens duráveis e, como na clas­sificação leva-se em conta também a posse desses bens, houve o avanço para a classe média - constatou o diretor da Target, Marcos Pazzini. Além disso, o diretor diz que este ano houve um aumento mais concentrado no número de domicílios das classes intermediárias.'Ou seja, mais famílias do segmento se formaram. Segundo pesquisas do ins­tituto, a migração também está se dando da classe C para as B 1 e B2.

...
No mercado de trabalho o fenômeno se repete. A renda apropriada pelos 40% intermediários (es­tão entre os 50% mais pobres e os 10% mais ricos) subiu de 40,7% em outubro de 2004 para 41,7% no mesmo mês do ano passado. O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra ainda outro número: a renda domiciliar per capita, descon­tada a inflação, subiu 14% em outubro de 2005 na comparação anual.

- Os símbolos da classe média, que são emprego com carteira assinada e acessos ao crédito e à faculdade, estão em expansão. O emprego formal dá segurança para consumir - diz Neri.
Na avaliação do economista, esse crescimento na participação veio para ficar, principalmente em relação ao emprego com carteira.
- As empresas estão confiantes, pois há custo na contratação. Por esse lado, a expansão parece sustentável. No início do Real, houve um pico de crescimento isolado, hoje o que se observa é equivalente a uma rampa contínua de crescimento. Quanto ao crédito, o avanço pode ser menor, mas deve continuar.
Essa confiança tomou conta da família de Denise Uchôa, advogada e supervisora de pessoal. Há seis meses, ela comprou o primeiro carro: um Siena 2004, à vista. Para completar o valor do veículo, recorreu ao crédito consignado. Ela espera agora receber os 10% de aumento dados no mês passado. A fábrica de lustres do ma­rido também vai ganhando mercado, o que lhe permite investir em cursos para ela e o filho Thiago, de 10 anos:
- Fiz cursos para a prova da OAB, e meu filho está matriculado no inglês. Estou confiante de que as coisas vão continuar melhorando. A folga na renda está me permitindo estudar mais.
Outro instituto de pesquisa, o La­tinPanel, ligado ao Ibope, também viu crescer a fatia da classe C, a faixa intermediária da sua classificação (considera o consumo de famílias que ganham de quatro a dez salários­mínimos). Na média de 2005, esses domicílios representavam 33% do consumo total no país. Em abril deste ano, a faixa subiu para 38%.




4 comentários:

Marco Aurélio disse...

Elton

Sabia que a aposentadoria do presidente petista molusco tem o valor de valor de R$ 4.294 ? Fica fácil vetar então o aumento de 16,67% das aposentadorias maiores do que um salário mínimo.

Um abraço

Marco Aurélio

Elton disse...
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Elton disse...

ei que é elevada, não sabia o valor extato. Não apenas a aposentadoria dele é elevada, mas de todo os ex-presidentes, inclusive o príncipe dos sociólogos. A proposta de aumento de 16,67% é sabidamente impossível de se cumprir com um orçamento tão apertado devido principalmente ao superávit primário, dívida pública, etc. O senado sabe disso e estava seguro de que a proposta seria vetada, mas não perderiam a oportunidade de ofuscar o aumento do mínimo obrigando o presidente a tomar uma decisão impopular.
A previdência é um dos maiores programas sociais do mundo - mérito do Estado e não de nenhum governo, está em situação crítica devido ao aumento da expectativa de vida brasileira e aos conhecidos constrangimentos orçamentários a que fomos submetidos desde o absurdo aumento de 750% da dívida pública ocorrido no governo anterior. A previdência deveria ser assunto obrigatório no discurso político destas eleições, o que não ocorrerá, sabemos que nos esperam discurso vagos e abstratos, cheios de ódios e preconceitos.
Dos candidatos sabemos, pelo histórico de sua prática política em relação ao tema, que a alternativa à direita não faria melhor do que o Lula fez neste caso. As alternativa esquerdistas que se apresentam (me refiro à Heloisa Helena, pois não sei como situar o Cristovan Buarque depois que o vi repetindo o discurso da direita em relação ao Chavez, tempos depois de ter visitado a Venezuela para comemorar o fim do analfabetismo, por lá, evidentemente) não me parecem ter o pragmatismo necessário para levar a bom termo as suas igualmente boas intenções em relação ao tema, ocupados muito mais em manterem uma prática ético-ideológica purista do que com as conseqüências concretas desta prática num cenário político inamistoso como o que vivemos.
Tenho minhas críticas ao Lula e seu governo, que considero de centro-esquerda e social-democrata, mas considerando os constragimentos econômicos a que o país se encontra submetido avalio-o como tendo sido francamente positivo. Vai dizer que o resultado da pesquisa a que este post se refere não é relevante?

Abraços

Anônimo disse...

É...
Esta é a verdadeira verdade...
O País para mim está mudando e muito, para melhor!!