28 setembro 2006

Destruindo os mitos do voto em Lula

Em sua última edição a revista Carta Capital, traz a excelente matéria
Teses Equivocadas Sobre o Voto em Lula. Ótima para todos aqueles que acham que votam no Lula só pobres, burros e nordestinos. Deveriam distribuir alguns exemplares para certos grupos de mídia. Quem sabe aprendem a utilizar dados para fazer jornalismo e não para justificar preconceitos.

Infelizmente no site não é possível ver as estatísticas, disponíveis apenas na revista física. Segue um pequeno trecho:

Essa tese não se sustenta em nada de sólido. As evidências de que o Bolsa-Família “explica” o voto em Lula nas famílias beneficiárias, ao contrário, são muito frágeis. Para sustentar o argumento, seria necessário mostrar, por exemplo, que eleitores de famílias análogas, mas onde não há beneficiários, votam de maneira significativamente diferente, coisa que, até agora, não foi demonstrada com adequado rigor.

Se, no plano individual, a prova é, no mínimo, inconclusiva, no plano coletivo é menos ainda. Se fosse verdade que o programa tem esse tipo de impacto, seria razoável esperar que, em cidades onde a cobertura é maior, a propensão a votar em Lula aumentasse, seja por haver mais beneficiários diretos, seja por haver ganhos indiretos (no comércio, especialmente) que seus habitantes creditassem a ele.

Com base em pesquisas como as que fazemos, nós e os demais institutos, não se pode dizer isso, nem de longe. O que temos, quando classificamos os municípios incluídos em nossa amostra em categorias de cobertura, indo de “baixa”, “média”, “alta” a “muito alta”, é que todos os tipos de município tendem a votar de maneira semelhante. Ou seja, não há qualquer relação entre viver em municípios de “baixa” ou “muito alta” cobertura e votar ou não votar em Lula.

25 setembro 2006

Franklin Martins: Na reta final, é preciso cuidado para não se envenenar país.

Leia aqui.

Trecho:
Pretendia escrever a coluna de hoje sobre as discrepâncias entre as mais recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha. Mas mudei de idéia ao ler matéria publicada no Estadão desta segunda-feira sob o título “Rigor com a corrupção na política varia com região e condição social” e o subtítulo “Eleitor do Nordeste expressa maior tolerância com desvios do que o do Sudeste”. É séria candidata ao primeiro lugar da campanha “Vamos envenenar este país” em curso em muitos jornalões brasileiros.

22 setembro 2006

Pobreza cai em três anos de Lula

Conforme pesquisa da FGV, a pobreza no Brasil caiu de 28,2% para 22,77% durante os três primeiros anos do governo Lula.

A FGV compara estes dados com os três melhores anos do governo FHC, sendo que o governo petista ganha por 0,1% na redução anual da pobreza, 5,2% contra 5,1%.

Vale ressaltar que a comparação foi feita com os três MELHORES anos do psdbista, nos demais não houve queda alguma. Levando em conta que o método de escolha dos anos é arbitrário, poderiamos pegar os três piores: 5,2% Lula X 0% FHC.

21 setembro 2006

A estratégia é bem clara

Nota do Terra:

Heloísa Helena é campeã em noticiários favoráveis

Em uma análise do comportamento da imprensa durante as eleições presidenciais, a candidata Heloísa Helena (Psol) é a campeã do noticiário favorável, seguida de Cristovam Buarque (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O presidente Lula, por sua vez, recebe um constante tratamento negativo, tanto nos noticiários em que aparece como candidato quanto como presidente.

A avaliação foi feita pelo Observatório Brasileiro de Mídia, entidade dirigida por professores da USP, UNB e PUC paulista que foi criada no ano passado. Eles fazem a análise dos principais jornais e qualificam as matérias como positivas, neutras ou negativas para cada um dos quatro principais nomes. O trabalho começou no início de julho e até o momento já foram publicados 11 relatórios semanais.

Então tenta-se desmoralizar o Lula, passar votos para a Heloisa Helena (já que o Alckmin não consegue mesmo) e forçar um segundo turno, entre Lula e Alckmin. E Heloisa Helena e seus nefelibatas mais uma vez servindo de marionete, ou trampolim, para os respresentantes da direita mais nociva que existe.

O Povo contra o Golpe!

Dois artigos da Revista Eletrônica Novae:
Mauro Carrara: Mobilização Popular Contra o Golpe.
Laerte Braga: O jogo sórdido das eleições.

20 setembro 2006

Assalto à imprensa

Alberto Dines, geralmente agudo e crítico, vem há algum tempo decepcionando aqueles que acompanham o que escreve. O motivo são os textos que dedica ao fato de Lula ter incluído em seu programa de governo a "democratização dos meios de comunicação". Um exemplo disto pode ser visto aqui.

Mas os comentários estão ótimos. Eis alguns:
Fábio José Mello , Descalvado-SP - Jornalista

Para serem respeitadas, as grandes corporações de mídia precisam se dar o respeito. Não podem juntar-se a arapongas, não podem dar dinheiro para campanha de deputados, não podem sonegar informações, não podem adulterar fotos, não podem manipular debates, não podem interferir no processo eleitoral, não podem receber propina, não podem achincalhar a honra alheia, não podem ter propriedades cruzadas, não podem MENTIR... Não vejo nenhum problema em se democratizar a informação, que não pode mais ficar nas mãos de um grupo de famílias. A sociedade não aceita mais ser refém dessas famílias.
Euclides Rodrigues de Moraes , João Pessoa-PB - Bancário
Sr. Dines. O Senhor quando faz uma afirmação dessas "quando não pelos esbirros do lúmpen jornalístico chapa-branca", não está confundindo um pouco as coisas? Pois se há partidarismos por parte da Imprensa, nunca foi em favor do PT ou o Senhor está nos tratando por abestalhados? Então, estamos todos cegos e surdos, para dizer o mínimo, e por conta disso, não estamos entendendo o que vem acontecendo, neste País, desde a posse de Lula e intensificando-se desde maio/05, A imprensa não vem distorcendo fatos e considerando como verdadeiras, quaisquer insinuações contra o PT, por mais descabidas que sejam? Ou como já questionei, aqui mesmo no OI, e agora confirmado pela juíza do Trabalho, Zuleica Jorgensen Malta Nascimento, que não há crime na compra de informações, mas em que isso foi considerado pela imprensa? Além do mais Senhor Dines, por que o Senhor entende que a imprensa não pode ter algum tipo de organismo que defenda as pessoas de seus excessos? Será que ao ofendido só restará o recurso de dar um tiro no jornalista como única forma de defesa de acusações injustas?

Entendo que é uma opção completamente fora de propósito. Não quero nem falar dos casos atuais, mas do Alcenir Guerra, Ibsen Pinheiro, Escola de Base, etc, a imprensa abriu os seus espaços e acusou os dois primeiros de ladrões e aos últimos de criminosos, depois ficou provado e comprovado que eram inocentes, destruíram a vidas dessas pessoas e nada aconteceu, nem contra as empresas nem contra os jornalistas, nem uma mísera censura pública e o Senhor entende que deve continuar assim! Que categoria é esta que paira acima das Leis da Liberdade e do Respeito que o Senhor defende? É tão fora de propósito a colocação que chega beirar o absurdo, pois dentro dessa concepção, basta ser jornalista para se tornar um 007, com licença para matar e destruir e o restante da sociedade que se exploda, até o Direito, mais elementar, que é o de se defender e pleitear a condenação de quem lhe acusa injustamente, é permitido, pois a Liberdade de Imprensa é mais importante do que a Honra a Liberdade e o Respeito da pessoa humana!
Marnei Fernando , Anapolis-GO - Publicitario
A imprensa é que tem assaltado o povo brasileiro com suas manchetes de escândalos sem comprovação... no caso da Revista Época é bem diferente... lá existem provas... cópias de cheques... fotos e muito mais... o que não dá pra aceitar é a imprensa toda desvirando o foco das denúncias para prejudicar uns e inocentar outros de acordo com suas conveniências e preferências... compactuando e se alinhando ao golpismo a demogracia brasileira... isto sim é roubar o direito a informação verdadeira... É preciso sim que o governo regulamente esse "poder paralelo"... pedimos respeito à nossa inteligência...
Marcio Peralta , Petrópolis-RJ - Médico
Caro Dines. Realmente voce é um craque. Escreve exatamente o contrário daquilo que pensa, pois é óbvio que com a sua cultura e seu discernimento já deve ter percebido a instrumentalização da "instituição jornalística" pavimentando um possivel golpe. È possivel que exista algo que os mortais não conheçam, mas até agora voce não escreveu nada de novo.só está fazendo papel de diversionista que é muito pouco para sua qualificação Discorde, mas não exagere na tinta marrom. Vamos analisar os fatos: O dossiê-SERRA como fonte de provas é fraquinho, o problema é que as investigações podem prosseguir e então, meu caro, só dando um golpe para abafar...
Mauro Sampaio , Brasília-DF - jornalista
Que tentativa de aliciamento é essa? Considero legítimo procurar a imprensa da mesma forma que ela procura suas fontes. A imprensa está desmoralizada é pela possível vitória de Lula quando ela pensou que faria a cabeça do eleitor.

Eliseu Mariotti , João Pessoa-PB - Publicitário
Do jeito que está este artigo, me parece querer dizer que a imprensa é uma pobre ferramenta ingênua e manipulada por políticos mal-intencionados. Faz muito tempo que o brasileiro, e pode-se dizer que a classe b, c e d não se deixam levar por afirmações como essas acima. A grande mídia sempre agiu como o quarto poder, a verdade é que passou na frente dos outros 3. Os verdadeiros manipuladores da política estão atrás da grande imprensa e quem são, esta não revela. Trabalham ou estão na mão daqueles que sempre agiram nos porões de nosso país e não se mostram. E mais, a imprensa não se conforma em não manipular, em não formar mais opiniões do brasileiro, inclusive o analfabeto. Esta tem sido uma granda e justa perda de poder desta que se diz uma imprensa injustiçada e comprada forçosamente. Coitado dos nossos jornalistas!!! Aqui vai uma dica. O brasileiro acordou, não aceitaremos um Golpe de Estado legalizado!! Aqui não é a Tailândia, a diferença é que lá foram os militares!!! Acordem Abutres da Elite, seu tempo acabou!!!
Ricardo Farias , Rio de Janeiro-RJ - Professor
O dever da imprensa é investigar sim todo o problema da compra do dossiê, assim como a origem desse dinheiro todo. Mas, daí a usar o crime da compra do material com o intuito de abafar o seu conteúdo é sinal de que, na verdade, a imprensa está comprometida até o pescoço com o projeto de venda das riquezas nacionais encarnado pelos tucanos.

Zuleica Jorgensen Malta Nascimento , Rio de Janeiro-RJ - Juiza do Trabalho
Curioso que você e toda a imprensa branca deram total cobertura a tudo quanto o Vendoim disse a respeito de outros políticos, especialmente dos que apoiam o Governo Lula, acusados de envolvimento na máfia das ambulâncias. Mas agora, quando a corda arrebenta do lado do Serra e do Alckmim, você diz que se trata de jornalismo marrom, de armação do PT e coisa e loisa. Você e toda essa imprensa [ ] sabem que não há crime na compra de dossiês, mas tratam disso como se fosse o pior dos delitos. O que seria da imprensa (branca e marrom!) se comprar informação fosse crime? Tudo isso não passa de cortina de fumaça para abalar a eleição do Lula, praticamente certa, e desmoralizar, de cara, o segundo mandato. Aliás, o PSDB e caterva já disseram que não vão dar sossego ao Lula. É a política do quanto pior melhor, que vocês sempre atacaram, quando supostamente promovida pela esquerda. É lastimável que o Brasil ainda esteja, em termos de imprensa, na primeira infância, quando a gente só faz o que interessa a nós mesmos. Meus pêsames.

Ainda o Golpe

O prof. Idelber Avelar, dO Biscoito Fino e a Massa, em nova postagem, que ele intitulou "Contra o golpismo, desta vez com ponderação" (em contraste com a indignação do ótimo texto de ontem) resume e enumera, sucintamente, as razões pelas quais este caso todo exala um cheiro fétido de golpe. Não deixe de ler.

A mídia golpista mostra suas garras

Fico impressionado quando vejo o tratamento diferenciado que é dado pela mídia gorda em relação a esquerda e a direita. Seguem exemplos da capa de dois destes veículos, obtidas via Radiobrás:

O Globo
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi diretamente envolvido ontem no escândalo da compra de um dossiê com supostas denúncias contra o tucano José Serra, candidato a governador de São Paulo. A revista Época revelou que o petista Osvaldo Bargas - um velho amigo do presidente Lula que foi secretário do Ministério do Trabalho e atualmente é um dos responsáveis pelo programa de governo de Lula - ofereceu o dossiê a um de seus jornalistas. Bargas é casado com Mônica Zerbinato, secretária pessoal de Lula. Acompanhado de Jorge Lorenzetti, chefe do núcleo de informação e inteligência da campanha de Lula, Bargas disse ao repórter da Época que Berzoini sabia do encontro, embora não conhecesse o assunto.
O Estado de São Paulo
Mais dois petistas foram envolvidos ontem no escândalo do dossiê com supostas informações prejudiciais ao candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra. Um deles é Oswaldo Bargas, secretário do Ministério do Trabalho na gestão de Ricardo Berzoini e ultimamente integrante da campanha do presidente Lula; o outro é o próprio Berzoini, que atualmente preside o PT. A revista Época informou que Bargas a procurou oferecendo "denúncias sérias" contra Serra. Bargas disse que Berzoini sabia da oferta, embora não conhecesse o material.


Ao falar do dossiê, as informações não passam de suposições e não merecem a atenção da mídia. Já Berzoini se econtra diretamente envolvido, simplesmente por saber que haveria uma reunião. Até que os fatos sejam realmente apurados tudo não passa de suposição e deveria ser tratada como tal, tanto para Serra quanto Berzoini. O problema é que todos os olhos se viram para onde os veículos de desinformação mandam. No fim em um lado o conteúdo do famigerado dossiê será esquecido enquanto no outro, comprovando-se ou não o envolvimento, grandes cabeças petistas terão que rolar. Ficará "provado" que tinham razão, pois apenas o lado que eles acusam é julgado.

Este tratamento não é de hoje. Todos os supostos crimes de FHC e Alckmin nunca ganharam a devida atenção da gorda mídia e acabaram não sendo investigados. Nunca deixaram o status de suposição. Já para o atual governo impera o denuncismo, não são necessárias provas.

E a Polícia Federal não precisa mais investigar a origem dos 1,7 milhões que seriam utilizados para comprar o dossiê. Com certeza veio de Cuba em caixas de charuto.

Las nuevas formas de atacar a Venezuela

Mas não apenas à Venezuela:

Dalmo Dallari: "É pura encenação eleitoral"

Entrevista na Terra Magazine.

Terra Magazine - Qual pode ser o resultado do pedido feito ao TSE?
Dalmo Dallari - Isso é pura encenação eleitoral. Esse pedido não tem a mínima consistência. Um dado que me chama a atenção é que essas ameaças de ação judicial estão sendo usadas como cortina de fumaça para que não se pergunte sobre o conteúdo do dossiê. Que tipo de acusações ele tem? Seria essencial conhecer isso.

18 setembro 2006

Recordar é viver: a tradição da direita brasileira é golpista

Matéria de Marco Aurélio Weissheimer na Agência Carta Maior:

PORTO ALEGRE - De maus modos também se morre. Essa frase tem vários significados. Entre eles, várias expressões de maus modos. Entre elas, a falta de atenção sobre o que acontece ao nosso redor. Nos últimos dias, uma série de “acontecimentos” aumentaram a temperatura do ambiente político brasileiro. As aspas que cercam os acontecimentos pretendem justamente chamar a atenção para o que pode estar, de fato, acontecendo. Uma mínima dose de razão prudencial recomenda uma certa dose de suspeita em relação à idéia de coincidência. A temperatura política aumentou desde a última sexta com as notícias do suposto envolvimento da gestão de José Serra no Ministério da Saúde, durante o governo FHC, com o esquema das sanguessugas e suas formidáveis ambulâncias super-faturadas. O “acontecimento” aí, rapidamente, sofreu uma transmutação: tornou-se uma “investigação sobre o suposto envolvimento de petistas em uma armação contra José Serra”.

A realidade dos “acontecimentos” tem uma dimensão seletiva na mídia. Alguns “acontecimentos” são mais “acontecimentos” do que outros. E merecem qualificação diferenciada: as denúncias contra Serra rapidamente são descritas sob o guarda-chuva da “armação”. Um desses “acontecimentos” merece atenção menor. O ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, disse sexta que os escândalos de corrupção investigados pela CGU começaram em governos anteriores. E acrescentou que as denúncias envolvendo ministros de governos passados, como José Serra, devem receber o mesmo tratamento das denúncias que envolvem integrantes e ex-integrantes do governo Lula, como o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa. Esse “acontecimento” teve um destaque muito menor na mídia. No final de semana, as manchetes falavam das investigações da PF para apurar o envolvimento de petistas em uma “armação” contra Serra.

“Quadro de horror e opressão"
No final da tarde de domingo, somos informados de mais um “acontecimento”. Três ministros do TSE tiveram seus telefones grampeados. Entre eles, o presidente do Tribunal, ministro Marco Aurélio Mello. Uma nota do TSE anuncia a convocação de uma coletiva para a manhã de segunda-feira. Antes do anúncio de qualquer investigação sobre o caso, o ministro já antecipa algumas opiniões na imprensa. “Se partiu de um particular, político ou do crime organizado, é condenável. Mas se partiu do Estado mostra que quadro de horror e opressão estamos vivendo. Um ministro do Supremo ser bisbilhotado é uma coisa inimaginável”, declarou Marco Aurélio Mello à Agência Globo. A declaração do ministro mal consegue disfarçar sua visão sobre a conjuntura atual: estaríamos vivendo um quadro de horror e opressão. A caracterização do presidente do TSE não é exatamente nova.

Na semana passada, Marco Aurélio Mello declarou que a reeleição é péssima para a democracia. Se, por um lado, o instituto da reeleição é um problema sério que deve ser discutido, por outro, a declaração, no contexto da campanha eleitoral, significa que o presidente do TSE recomenda à população que não vote nos candidatos que disputam a reeleição, entre eles o presidente. Não custa lembrar: não é atribuição do presidente do TSE dizer à população em quem deve ou não votar. Tampouco é atribuição de um magistrado antecipar opiniões sobre uma investigação que ainda será iniciada. A pressa em indicar possíveis culpados indica uma ansiedade singular. Uma ansiedade em tornar um “acontecimento” o “quadro de horror e opressão que estamos vivendo”. E qual é exatamente esse “quadro de horror e de opressão”? Do ponto de vista político, é o quadro de um cenário eleitoral que aponta para a reeleição do atual presidente do país.

Repetição e memória
Não é a primeira vez que esse quadro ocorre. E, em se tratando de repetições, a memória costuma ser uma boa conselheira. No dia 27 de setembro de 1998 a Folha de São Paulo publicou uma entrevista realizada com o então Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ilmar Galvão, onde este expressou publicamente seu apoio a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O presidente do TSE afirmou: "Se eu fosse Congressista, nunca aprovaria a reeleição para Governador e Prefeito. Quando muito, para Presidente da República, em uma conjuntura como a atual, em que a permanência do Presidente da República é um fato indispensável para a manutenção e para consolidação do modelo econômico que foi implantado no Brasil." A entrevista não ganhou grande repercussão nos noticiários televisivos. A oposição exigiu que o ministro se retratasse publicamente, mas Galvão não se abalou com o episódio, limitando-se a dizer que havia sido mal interpretado pela imprensa.

Na época, a comissão de Defesa da Ética na Política da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota oficial lamentando o ocorrido e manifestando temor pelo bom andamento das eleições. A comissão concluiu que cabia ao ministro Ilmar Galvão avaliar se o episódio havia abalado a necessária imparcialidade de sua atuação na condução das eleições. O caso foi de extrema gravidade, pois mostrou um Ministro do TSE, presidente da última instância judiciária eleitoral, declarando sua preferência eleitoral sem qualquer constrangimento. Não houve nenhum escarcéu na mídia, muito pelo contrário. Reinou o silêncio. O máximo que se viu foi um pedido de exame de consciência por parte da OAB. Nunca é demais lembrar: o papel da justiça eleitoral é trabalhar para garantir a licitude do pleito de forma imparcial e obedecendo a legalidade vigente. Esse princípio básico foi desrespeitado de forma escancarada. E ficou tudo por isso mesmo.

A geografia seletiva do mar de lama
Ficou tudo por isso mesmo. Essa é uma expressão familiar à história política do Brasil. Ao longo do século XX, o país teve duas experiências de governos com pendores populares, com todos os seus limites e contradições. Um deles acabou com o suicídio do presidente da República. O outro foi abortado por um golpe militar. A terceira dessas experiências, que estamos vivenciando agora, curiosamente experimenta alguns fenômenos que se repetiram nas duas primeiras. O “mar de lama” parece só vir à tona no país quando um governo com algum grau de comprometimento popular chega ao poder. Isso aconteceu também em escala regional. A mais importante experiência de um governo estadual de esquerda no país, o governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, foi atravessada por denúncias de corrupção e de envolvimento com “a máfia internacional da jogatina”. Este governo enfrentou uma CPI da Segurança Pública, tão pródiga em denúncias quanto em falta de provas, o que resultou no arquivamento das primeiras pelo Ministério Público.

O quadro então é este. Qualquer governo que tenha um cheiro de esquerda, por mais tênue que seja, é logo acusado de estar patrocinando um “mar de lama”. Os outros governos, com cheiro, gosto e cor de direita, seriam expressões de moralidade pública. Considerando o tempo histórico que uns e outros governaram esse país, chega-se à conclusão que os problemas do Brasil devem-se aos poucos anos que governos com algum pendor popular estiveram no poder. Neste domingo, o presidente nacional do PFL, o senador banqueiro Jorge Bornhausen (PFL/SC), defendeu a cassação do registro da candidatura do PT. Bornhausen que, recentemente, expressou o modesto desejo de “se ver livre desta raça por 30 anos”, afirmou: “Como sempre, o PT vive no submundo do crime, da falcatrua, da chantagem e do uso do dinheiro público”. Outro grande líder democrata do país, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), chamou o presidente Lula de “rato”. Seu currículo de serviçal da ditadura militar e suas recentes declarações defendendo uma nova intervenção dos militares na vida política do país (clique AQUI para ver), devem ser vistos, talvez, como acidentes de percurso.

Mas o que a história do país mostra é que não há acidentes de percurso. Mostra que se deve desconfiar daquilo que se apresenta como coincidência. Mostra que se deve levar a sério esses últimos acontecimentos, com ou sem aspas, como uma boa maneira de dar conseqüência ao que está se passando ao nosso redor. A mescla de silêncio e seletividade midiática é um sinal de alerta mais do que suficiente. De maus modos também se morre. A falta de memória e a desatenção estão nessa tenebrosa lista, em que o golpismo se imiscui, para dizer quem pode e quem não pode, governar, e quem pode e quem não pode, ter direitos. Ao longo da história, a imprensa brasileira não sobrevoou esses “acontecimentos” como um anjo que olha, compassivo, os acontecimentos terrenos. Pelo contrário, sempre foi um protagonista ativo, com lado definido. O fato de silenciar sobre o engajamento escandaloso de um presidente do TSE em um processo eleitoral, como ocorreu durante o governo FHC, não é acidental. A única coisa acidental que pode haver aqui é a falta de atenção.

O fim da era da pedra no lago
Não custa lembrar então um fenômeno novo nesta relação da mídia com a sociedade. Um fenômeno apontado pelo jornalista Franklin Martins em recente entrevista à revista Caros Amigos. Segundo ele, estamos vivendo um fenômeno novo importantíssimo na vida política brasileira do qual as pessoas ainda não se deram conta: o fim da era da pedra no lago. Ele explica: “Nós tínhamos um padrão de comportamento que vem desde o final da luta contra a ditadura. Produzia-se um fenômeno político, a classe média formava uma opinião a respeito e essa opinião se estendia para a periferia. Como a pedra no lago: caiu a pedra na classe média, formando ondas concêntricas para os lados. A classe média era a dos chamados formadores de opinião, você os conquistava, tinha resolvido a parada. Ao que assistimos nessa crise do mensalão? A classe média formou a convicção de que o governo estava tomado por uma quadrilha, por uma bandidagem, etc. – não estou discutindo se isso é verdade ou não -, ela formou essa convicção, bateu a pedra no lago...”

“...as ondas começaram, daqui a pouco...bateu em algum lugar, tinha um dique, e as ondas começaram a voltar. Bateu onde? Bateu na classe C. É o pessoal que ganha de dois a cinco salários mínimos que olhou e disse: “Espera um instantinho, não é bem assim, eu penso um pouco diferente. Tem roubalheira? Tem. Roubou o governo? Roubou. O Lula é algum santo? Não. O Lula sabia? Acho até que sabia, mas é o seguinte: sempre foi assim e a minha vida está melhor hoje em dia, quero discutir isso também. O BNDES anunciou um plano para financiamento de 300.000 computadores até o valor unitário de 1.400 reais. Pra onde eles vão? Para a classe C. Seis milhões de pessoas foram incorporadas à classe C segundo as estatísticas, foi manchete de todos os jornais. Quer dizer, 10% do mercado brasileiro. Agora que estou melhorando de vida, vocês querem derrubar esse governo?”

Essa é a idéia. E é exatamente por isso que as próximas semanas devem ser pesadíssimas. Os advogados do PSDB apresentam nesta segunda, em Brasília, uma representação ao TSE contra o que consideram “interferência do governo no processo eleitoral”. A ação será movida contra o presidente Lula, contra o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos e contra o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini. Para o PSDB, “há fatos suficientes para a cassação do registro da candidatura de Lula”. Com o seu candidato estagnado nas pesquisas, tucanos e pefelistas devem partir para a radicalização nos próximos dias, tentando atingir a candidatura Lula. O objetivo não é necessariamente impedir a vitória de Lula, mas sim inviabilizar um segundo governo. A julgar pelo tiroteio verbal deste fim de semana e pelo surgimento de novas denúncias, acusações e “acontecimentos”, os últimos dias da campanha eleitoral serão de tripa na calçada. Se alguém achava que a campanha seria marcada pela “apatia” pode se preparar para fortes emoções. Vai engrossar.

As elites brasileiras não toleram sequer um governo do PT que mistura um Bolsa Família com lucros inéditos aos bancos. As elites brasileiras não toleram não estar no poder. Não toleram a mínima possibilidade de perder espaço de poder. Por isso, nada está resolvido. Nada está ganho. Não há nenhuma vitória garantida. Atenção redobrada é o melhor antídoto contra os maus modos que continuam a nos espreitar.

14 setembro 2006

Xô, Sarney

Vocês estão acompanhando isto? Então entre na campanha contra o autoritarismo do marimbondo de fogo contra o blog de Alcinéa Cavalcante.

11 setembro 2006

ALELUIA ! O IMPEACHMENT JÁ TEM UM LIDER

Paulo Henrique Amorim escreve sobre o Golpe Branco em articulação. Mais do que nunca é necessário permanecermos alerta e resistir!