12 setembro 2007

Incultos

A revista Carta Capital publicou uma matéria de Paula Pacheco chamada "A elite esperneia":


Desde a separação de Ricardo Mansur, em 2003, Patrícia Rollo leva uma vida mais modesta. Trocou a espaçosa casa no Morumbi por um apartamento pequeno, ainda que bem decorado, na região dos Jardins. Os lautos tempos de primeira-dama do império Mesbla e Mappin parecem coisas do passado. Patrícia, porém, como ela mesma diz, continua a fazer parte de um “clubinho”, um universo de brasileiros que mal chegam à casa do milhão de integrantes, usualmente denominados de elites.

A exemplo de vários dos seus pares, Patrícia está cansada. E não só do presidente Lula ou do caos aéreo. Está farta de ser apontada, ao lado dos amigos, como responsável pelas mazelas históricas do País. “Os menos privilegiados fantasiam a elite como uma vida perfeita”, afirma a socialite. Antes de continuar o raciocínio, manuseia o colar de pérolas. “O povo está acomodado. Não vou falar dos baianos. Será que devo falar? Até pelo clima, pelo calor, pela falta de cultura, é inerte. Tem gente que fica com o Bolsa Família e não trabalha mais”, analisa, para em seguida enumerar seus apoios a projetos sociais. Entre eles, a doação dos lucros do livro Boas Maneiras – Nunca é tarde para aprender ao projeto Escola do Futuro, que mantém 600 alunos carentes.

A reação de Patrícia é parte de um fenômeno que tem se manifestado de forma mais constante e do qual o movimento Cansei, encabeçado pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, o promoter João Dória Jr., cantores e celebridades, é a face mais pública e comportada. Nos cafés de 9 reais e coiffeurs, nas mesas dos restaurantes que servem Petrus nas suas cartas de vinho e nas butiques de grife das maiores cidades percebem-se os indícios de uma rebelião dos abastados, pautados pelo noticiário renitente e monocórdio acerca da “corrupção nunca antes vista” e menos afeitos a admitir responsabilidade pelo enorme fosso social, pela captura do Estado por interesses privados e pelas limitações da cidadania que, no fim das contas, afeta a todos.


Sobre o trecho que destaquei, gostaria de fazer algumas observações. A primeira: a mentalidade da nossa elite continua sendo a do tempo da colônia. Explico-me: a elite não se vê como brasileira, mas simplesmente como representante dos interesses da sede européia. Para a sra. Rollo, por exemplo, fica transparente que "cultura" é apenas a importada da Europa, artificial e aprendida. A cultura autêntica, inata e bonita de nosso povo culto -perdoem me a redundância- seus maracatus, bumba-meu-boi, frevos, poetas de cordél, sertanejos "de raiz", etc. Nada disto seria cultura para Dona Zelite, aquela velha escrota.

Quanto à outra afirmação, a de que haveria "gente que para de trabalhar por receber Bolsa Família", seria ótimo se baixasse um Antônio Abujanra na repórter, que rebateria de pronto:

- Diga três.

2 comentários:

Bruno disse...

Tinha lido esta notícia outro dia e fiquei pasmo com a estupidez da declaração grifada. Pensei em publicar mas me faltou tempo.

Quanto a Carta Capital, estive tentando assinar. Infelizmente no sítio da revista só é possível para quem tem cartão de crédito. Depois encontrei um outro que permitia assinar pagando com boleto, mas fiquei desconfiado por ser mais barato. Voltei ao sítio da revista e questionei se o intermediário encontrado vendia assinaturas ou era golpe. Duas semanas depois e ainda não me responderam.

Acho que vou no blog do Mino reclamar.

Anônimo disse...

Vi essa matéria a pouco tempo, não tenho muito o que falar, simplesmente lamentável.
Uma elite pobre de cultura e informação.
Me surpreendi, uma revista como tal publicar um artigo desse.
Temos que ter muito cuidado com o que lemos, nem sempre o que é escrito é verdadeiro.
É preocupante ver coisas como essas serem publicadas.