14 maio 2007

Ratzinger, o incoerente

Em seu último discurso no Brasil, o sr. Ratzinger falou bastante sobre questões políticas. Criticou a atuação do Estado ao incentivar o uso de contraceptivos. Criticou os países que, segundo ele, possuem formas de governo "sujeitas a certas ideologias que se acreditavam superadas e que não correspondem à visão cristã do homem e da sociedade, como ensina a doutrina social da Igreja".

Terminou o discurso político dizendo que política não é assunto da Igreja. Estava pensando, evidentemente, apenas na Teologia da Libertação, aqueles padres que levam a sério o que o evangelho prega acerca dos pobres e dos ricos e trabalham para que os miseráveis tenham um vida menos ruim. Aparentemente o evangelho não está de acordo com o prega a doutrina social da Igreja (e se levarmos em consideração o que foi a Europa quando a Igreja realmente dava as cartas por lá, não está mesmo).

Lembremos que o Estado do Vaticano é uma monarquia absolutista. Certamente não está sujeito a certas ideologias ultrapassadas, segundo o Papa.

Se a Glória da Oliva realmente achasse que a Igreja não deve se meter em política, começar ia calando a boca sobre estes assuntos. Lembrou-me Josemaria Escriva, o fundador da Opus Dei (que é uma prelazia da Igreja Católica, podendo, inclusive, nomear padres). Escriva e a Opus Dei sempre tiveram uma atuação fortemente política. Elogiava Hitler (juntos contra o comunismo e o judaismo, dizia) e 8 ministros de Franco foram membros da Obra. Ao viajar pela América Latina e ao perceber que a Igreja destas bandas tinha maiores preocupações sociais e uma orientação política bem diferente da que havia na Europa, Escriva começou a discursar que a Igreja e os cléricos não deveriam se meter em política. Sei...

Em certo momento o Papa criticou a "desgraça da mentalidade machista". Muito coerente, vindo do líder supremo de uma religião em que as mulheres não podem ministrar missas, ou serem bispas, muito menos papisas. Conta outra velho Ratzinger, que esta não colou.

E falou, evidentemente, sobre o aborto. Já notaram como a Igreja adora falar em aborto e eutanásia, mas não dá muita atenção à pena-de-morte? Será que é por ter se valido dela durante os "bons tempos" em que podia queimar meninas adolescentes vivas em praças públicas, sem ninguém lhes encher o santo saco? Saudades destes tempos, não é Ratz?

Ratzinger foi coerente como o Bush, que proibe pesquisa com célula-tronco, mas não moveu um dedinho para salvar a vida de nenhum condenado à morte.

As professias de São Malaquias dizem que este é o penúltimo papa (depois a Igreja acaba). Se continuar deste jeito, não tenho porque duvidar. E vai tarde.